Talvez você nunca tenha ouvido falar em Guaratinga e, muito menos, em José Nunes Figueredo, 66 anos, o cidadão mais famoso dessa cidade ao sul da Bahia.
Em 1976, Zé Pisca – como é conhecido por causa do cacoete de piscar incessantemente os olhos – foi a primeira pessoa a pisar na gruta da Pedra do Oratório, o ponto de referência absoluto de Guaratinga.
“Do chão, eu via um buraco no meio daquela pedra enorme e pensava: ‘Vou colocar a imagem de Nossa Senhora Aparecida ali dentro’. Não aceitava a ideia de a gruta estar numa pedra chamada Oratório e não ter sequer uma santa”, explica ele, revelando seu trejeito peculiar por trás do óculos.
A aventura teve data marcada: dia 14 de agosto de 1975, Zé e alguns amigos levaram um enorme carretel de ferro para o alto da pedra, por uma face escalaminhável. O equipamento, construído por ele especialmente para essa aventura, ligaria uma grande gaiola a um cabo de aço e o ajudaria a descer do topo da pedra até a gruta. Foi o que aconteceu dois dias depois, quando Zé e o amigo Alberto Cardoso voltaram ao alto da pedra e entraram na gaiola. Uma equipe de apoio formada por outros amigos então controlou a descida através da manivela acoplada ao carretel, até a dupla finalmente chegar à boca da gruta.
“As pessoas caçoavam de mim, achavam aquilo uma coisa de outro mundo”, lembra. Isso durou até a gruta ser pisada, pela primeira vez na história, por Zé Pisca e Alberto. Eles colocaram a imagem de Nossa Senhora e tiraram as medidas da caverna suspensa: 234 metros de boca por 60 metros de fundo.
A façanha durou o dia inteiro. À noite, eles retornaram à cidade e foram recebidos como heróis.
Até hoje o feito é tido como a maior aventura já realizada na cidade de Guaratinga. E, enquanto Dean Potter ou Alex Honnold não descobrem a Pedra do Oratório para tentarem uma escalada free solo até a gruta, talvez ainda continue sendo por um bom tempo. Zé Pisca escreveu um livro autobiográfico e o carrega embaixo do braço. Ele atualmente procura editoras interessadas em publicá-lo.