Delegados Paulo Henrique (esquerda) e Robson Andrade (direita). (Foto: Reprodução/Polícia Civil)

A Polícia Civil da Delegacia Territorial de Guaratinga, com o apoio da 23ª Coordenadoria Regional de Polícia do Interior (Coorpin/Eunápolis), concluiu o inquérito policial sobre a morte da adolescente Hyara Flor Santos Alves, ocorrida no início de julho deste ano. O caso foi concluído e encaminhado para o Poder Judiciário, na quinta-feira (10). Na manhã desta sexta-feira (11), foi realizada uma coletiva de imprensa virtual para apresentar os fatos.


No início, as investigações sugeriam que o homicídio poderia ter sido motivado por vingança após um relacionamento extraconjugal entre a sogra e o tio da vítima. Relacionamento esse confirmada pelos envolvidos em vídeos e depoimentos. No entanto, de acordo com a polícia, essa narrativa não foi sustentada por provas que liguem a morte de Hyara.

O adolescente, ex-companheiro da vítima, foi ouvido por meio de videoconferência pela juíza da comarca de Guaratinga.

A investigação do caso concluiu que o tiro que atingiu a vítima foi deflagrado pelo cunhado da adolescente, de nove anos, quando a criança e Hyara brincavam com a arma no quarto dela.

No curso das apurações foram analisados laudos periciais, oitivas de 16 pessoas, entre elas, duas crianças que prestaram depoimento especial com a presença de promotor de Justiça da Promotoria da Infância e da Juventude do Ministério Público da Bahia.

Também foram analisadas imagens de câmera de vigilância do endereço do fato, documentos e mensagens de celular e redes sociais, além de apurações em campo.

O FURO 31 RESUMIU EM TÓPICOS TUDO SOBRE O CASO, veja abaixo.

A FAMÍLIA DO ESPOSO FOI OUVIDA EM TEIXEIRA – Por questões de segurança, os pais e os dois irmão menores do menor apreendido foram ouvidos na semana passada na delegacia da cidade de Teixeira de Freitas.

“Ficou evidenciado a partir da perícia e das oitivas de testemunhas que essa família fugiu após os disparos feitos da parte externa da casa para dentro. Porque caso ficassem ali, eles também seriam alvejados”, disse o Coordenador, Paulo Henrique.

O QUE DISSE O CUNHADO DE 9 ANOS – Em depoimento para a polícia, o menor disse que a arma caiu no chão. Depois o irmão dele, esposo de Hyara, chegou pegou a arma, tirou a munição e colocou em cima da penteadeira. Em seguida, ele sai da casa em direção a rua gritando, momento esse registrado pelas câmeras de segurança.

“No dia do fato, a vítima pegou essa arma e começou a brincar com seu cunhado de nove anos. E ela entregou a arma ao cunhado em um momento de brincadeira e disse para ele: finja que você vai me assaltar e mostre como você faria. Esse menor de nove anos, ao brincar e manusear a arma que estava carregada, pressionou o gatilho ocorrendo o disparo.” afirmou o Coordenador, Paulo Henrique.

ÁLIBI DO ESPOSO DA VÍTIMA – Segundo a polícia, uma testemunha chave na investigação garante que na hora do disparo que atingiu Hyara, o esposo dela estava na casa do pai com ele. E após ouvir o disparo, o esposo se dirige até a casa e o quarto que Hyara estava, uma vez que os imóveis são interligados pelos fundos.

“No momento do disparo, essa testemunha estava em um local com o menor que está apreendido. Essa testemunha foi um ponto forte da investigação, porque ele evidenciou que no momento do disparo que atingiu a adolescente Hyara, o marido dela estava em outro cômodo. Assim, chegamos a conclusão que no local do fato só estavam no quarto apenas a vítima e o seu cunhado de nove anos”, disse o Coordenador, Paulo Henrique.

TIROS DISPARADOS PELO TIO DA VÍTIMA – De acordo com a polícia, foi constatado que 10 minutos após o tiro que matou a adolecente Hyara. O tio da vítima esteve na frente da casa dela e disparou contra o imóvel do casal atingindo a porta e a televisão, motivo esse que fez a família do esposo de Hyara fugir.

“A perícia constatou ao menos dois disparos e os projéteis coletados pelos peritos de uma munição de 9 milímetros. Diferente do projétil de calibre 380 disparado contra a vítima”, disse o Coordenador, Paulo Henrique.

SUPOSTO CRIME PREMEDITADO E ROUPAS ARRUMADAS PARA FUGIR – A polícia negou a linha de que a família do esposo teria premeditado o crime, uma vez que o veículo usado na fuga não estava com o tanque cheio e foi abastecido em um posto de gasolina, após fugirem depois que o tio disparou tiros contra a casa do casal.  

“Eles saíram da cidade sentido a zona rural de Guaratinga e abasteceram o veículo em um posto de gasolina deixando até o cartão [de crédito] do filho mais velho. O pai do adolescente esqueceu até o número da senha, deixando o cartão como garantia”, disse o Delegado de Guaratinga, Robson Andrade.

ORIGEM DA ARMA E SEQUESTRO DO OUTRO FILHO DA SOGRA DA VÍTIMA – De acordo com o depoimento colhido pela polícia, a sogra confessou que deixou sua arma guardada com Hyara. Ela contou ainda que adquiriu a arma, após um filho sofrer um sequestro em Guaratinga.

“A sogra franqueou a arma à vítima, dias antes do fato, pedindo que ela [Hyara] guardasse em um armário. Essa sogra foi ouvida em Teixeira de Freitas e afirmou que a arma era de sua posse e que havia adquirido em Vitória da Conquista, logo após um filho sofrer um sequestro na cidade de Guaratinga”, disse o Coordenador, Paulo Henrique.

SUPOSTA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E CHICOTE – “No dia, no local do crime não encontramos esse chicote e no laudo de necropsia da vítima não há sinal de violência externa ou interna”, disse o Delegado de Guaratinga, Robson Andrade, responsável pelo caso.  

Ainda na coletiva, o Coordenador da 23º Coorpin/Eunápolis, Paulo Henrique, disse que as testemunhas ouvidas contaram que a convivência do jovem casal era muito harmônica.

RESULTADO – A criança de nove anos não será responsabilizada, pois a lei não permite que menores de 11 anos respondam por atos infracionais.

A sogra de Hyara Flor foi indiciada por homicídio culposo e porte ilegal de arma de fogo, considerando que a pistola utilizada no crime pertencia a ela.

O tio da vítima foi indiciado por disparo de arma de fogo, referente a tiros deflagrados contra a residência do casal de adolescentes.

A permanência do adolescente, ex-companheiro da vítima, na internação socioeducativa no Espírito Santo ficará a cargo do Ministério Público e do Poder Judiciário.

O QUE DIZEM OS ADVOGADOS DAS DUAS FAMÍLIAS

O advogado Homero Mafra, que responde pela defesa do adolescente apreendido, disse que a inquérito confirma a versão que era apontada pela família do jovem desde o começo das investigações. Ainda segundo ele, a defesa espera que o adolescente de 14 anos seja liberado o mais breve possível.

“A conclusão que a polícia chegou, segundo as notícias, é aquela que a família sempre sustentou: que se tratava, se tratou de um disparo acidental feito pelo filho mais novo. Quanto às demais conclusões, nós vamos ter que examinar o inquérito para que se possa ter uma posição, tanto no que diz respeito ao homicídio culposo quanto ao que diz respeito ao porte de arma. Quanto a liberação ou não depende de decisão judicial. O que a gente espera é que aconteça mais breve possível. Tenho certeza de que nesse caso no que toca a autoria dos disparos a conclusão está absolutamente correta e se fez justiça”, disse Homero.

Já a advogada Janaína Panhossi, que faz a defesa da família da vítima Hyara Flor, vem se manifestar na forma seguinte:

“Venho acompanhando o caso, desde a ocorrência deste triste fato, e até o presente momento, atuando, assim, em todas as fases da investigação. Diante disso, afirmamos, com respaldo técnico, que todos os elementos que fundamentam a alegação da família, no sentido de que Hyara foi vítima de feminicídio, foram fornecidos a autoridade. Recebemos com serenidade, porém, com profunda decepção a conclusão das investigações, mas estamos cientes de que a condução de um inquérito policial compete somente à polícia judiciária, mas a classificação dos delitos em apuração serão submetidos às superiores considerações do Ministério Público. Dessa forma, aguardamos posicionamento do representante do parquet (Promotor de Justiça). Pois cabe ao mesmo, independente do relatório policial, formar sua opinio deliciti e ao delito em apuração a classificação de acordo com as suas impressões, as quais, conhecendo o processo, certamente serão pela representação e denúncia dos responsáveis pela morte da jovem cigana.”, contou Janaína.