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Capital humano e educacional, rota para o desenvolvimento sustentável (Foto: dbmsistemas.com).

Em toda literatura econômica, o Capital Humano e Educacional é considerado um fator chave para o desenvolvimento econômico, mesmo na literatura econômica neoclássica, onde o binômio é percebido como um fator de produção adicional no processo produtivo, em que pese o fato de que essa escola de economia carregou as tintas no reconhecimento pelo fator “Acumulação”.


Até o primeiro cartel da década de 1950, a economia clássica, além de influenciar os estudos sobre “crescimento econômico”, considerava, para tanto, apenas os fatores de produção, a saber, Terra, Capital e Trabalho.

A importância do Capital Humano e Educacional como fator estratégico para o crescimento econômico tem sido amplamente estudada desde o início da década de 1990.

Estes estudos buscaram relacionar o fator Capital Humano e Educacional à teoria do “crescimento econômico”, notando-se a existência de certa incongruência nessa análise, uma vez que os rendimentos de alguns países eram desuniformes em relação ao capital físico.[1]

No Brasil, a inclusão do fator Capital Humano e Educacional na análise da economia mostraram que este fator, no PIB per capita, é maior que o impacto do capital físico, mesmo quando se controla para a especificidade de cada Estado, o que contradiz resultados empíricos de estudos anteriores.[2]

De acordo com o criador deste conceito, o economista estadunidense Theodore William Schultz, o Capital Humano e Educacional é a capacidade de conhecimentos, competências e atributos da personalidade de uma pessoa ao desempenhar um trabalho de modo a produzir valor econômico.[3]

No pós-guerra, Schultz pesquisou a rápida recuperação da Alemanha e do Japão, comparando a situação desses países à do Reino Unido, onde ainda havia racionamento de alimentos muito tempo depois da Segunda Grande Guerra Mundial.

Nosso autor concluiu que a velocidade de recuperação se devia a uma população saudável e altamente educada. Segundo ele, a educação torna as pessoas produtivas e a boa atenção à saúde aumenta o retorno do investimento em educação. Assim, ele introduziu a ideia de “Capital Humano e Educacional“, relacionando-o especificamente aos investimentos em educação.[4]

A ideia do prêmio Nobel da Economia de 1979 partiu de uma série de estudos básicos que já apontavam a melhoria na performance e no nível de satisfação dos profissionais quando as empresas se preocupavam com o bem-estar deles.

Schultz expressa que ao investirem em si mesmas, as pessoas podem ampliar o raio de escolha posto à disposição. Esta é uma das maneiras por que os homens livres podem aumentar o seu bem-estar. A educação não apenas repassa conhecimentos para o mercado, mas também articula e desarticula outros conhecimentos.[5]

A educação é reconhecida como uma variável político-estratégica capaz de intensificar o crescimento da renda, produzir a modernização ou construir uma sociedade justa.[6]

Como vimos, no último cartel do século XX a teoria de Schultz encontrou o meio ambiente para inspirar muitos trabalhos acadêmicos sobre os conceitos de “crescimento e desenvolvimento econômico”, motivando, inclusive, investimentos no ensino técnico e vocacional pelas instituições financeiras, como o FMI e o Banco Mundial, entre outras.

Esta teoria, além do fator econômico, também possui excertos filosóficos, sociológicos e psicológicos, os quais levam em consideração, a cultura, os valores, a filosofia da organização e o Mindset, entre os quais:

  • habilidades e qualificações;
  • níveis de educação;
  • experiência de trabalho;
  • personalidade — trabalho árduo, harmonioso em um escritório;
  • habilidades sociais — comunicação;
  • inteligência;
  • inteligência emocional;
  • criatividade — capacidade de inovar novas práticas/produtos de trabalho;
  • julgamento;
  • hábitos e traços de personalidade.

A UNESCO postula que um dos objetivos que devem ser alcançados na área educacional é a qualidade para a produtividade e autonomia. Para essa agência, por um lado, a má qualidade na educação promove a desigualdade e, por outro lado, os países devem se organizar para que seus sistemas educativos formem os alunos para promover o desenvolvimento econômico sustentável.[7]

Investir em capital humano significa que uma força de trabalho instruída, com qualidade de vida, com acesso aos serviços sociais básicos e plena cidadania será mais produtiva e eficaz nas suas atividades, complementando a ideia da divisão social do trabalho como instrumento de qualificação e especialização do trabalhador no processo produtivo.

Nessa perspectiva, tais ganhos de produtividade devem ser objetivados  através de investimentos na própria comunidade, que vão desde a qualificação profissional de seus integrantes, assim como o seu bem estar social.

Fazendo uma classificação, baseada no IDH das regiões brasileiras, teremos a seguinte hierarquia:

Primeiro lugar: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Mato Grosso do Sul;

Segundo lugar: Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Rondônia, Amazonas, Roraima e Amapá;

Terceiro lugar: Acre, Pará e Sergipe.

Último lugar: os Estados do Nordeste, a Bahia inclusa, com exceção do Estado de Sergipe.

Lembrando que o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) significa como a população de um determinado lugar está vivendo, segundo a qualidade de vida, renda per capita, mortalidade infantil, taxa de analfabetismo, expectativa de vida, qualidade dos serviços públicos (saúde, educação e infraestrutura em geral).[8]

É perceptível que os municípios cujos investimentos em educação, saúde e acesso à alimentação são mais significativos, têm maiores ganhos de produtividade e qualidade de vida ao longo do tempo. Não obstante, onde não há decisão política e incentivo ao equilíbrio entre Crescimento Econômico e Capital Humano e Educacional, haverá uma continuidade das disparidades econômicas regionais, obstáculos ao Desenvolvimento Sustentável.


[1] Uma análise do capital humano sobre o nível de renda dos estados brasileiros: MRW versus Mincer. In, https://www.scielo.br/j/ee/a/YRdJY7PpWscDGQn9RQCDqZK/?lang=pt. Acessado em 20 de agosto de 2021.

[2] Idem.

[3] SCHULTZ, Theodore W. O Capital Humano: Investimentos em Educação e Pesquisa. Zahar Editores, Rio de Janeiro, 1971.

[4] Idem.

[5] FRIGOTTO, Gaudêncio. A produtividade da escola improdutiva. Um (re) exame das relações entre educação e estrutura econômico-social capitalista. 4ªed. São Paulo: Cortez, 1993.

[6] CUNHA, Luiz Antônio. Educação e desenvolvimento social no Brasil. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1980.

[7] UNESCO. Educação para todos: o imperativo da qualidade: relatório conciso- 2005. Disponível em. Acesso em: 16 set. 2009.

[8] Indicadores de educação avançam, mas desigualdades regionais e raciais persistem. https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/. Acessado em 20 de agosto de 2021.