A partir do final da década 1970 e início da década de 1980, o mundo vem passando por sérias transformações econômicas, políticas e sociais, as quais repercutiram em vários setores.
Para alguns teóricos, essas transformações ocorreram devido à crise do modelo fordista-taylorista de produção e do Estado de Bem-Estar Social. Outros, afirmaram que a crise foi provocada pelo descrédito do modelo keynesiano. Ainda há os que identificaram que a causa da crise dos anos 1980 foi ocasionada pelo desmantelamento da União Soviética, recrudescendo o movimento de crítica ao marxismo e a ascensão do projeto neoliberal no plano político.
Nenhum desses analistas, no entrementes, distanciaram-se da abordagem desse fenômeno segundo as observações clássicas, tanto do ponto de vista da economia, quanto do ponto de vista da sociologia e da ciência política.
Por exemplo, os teóricos Karl Marx, Max Weber, Émile Durkheim, Georg Simmel, entre outros, segundo suas próprias perspectivas, abordaram criticamente os efeitos de fatores econômicos de natureza capitalista no mundo social.
O modo como esses autores caracterizaram e representaram esses fatores e seus fenômenos correlatos como o mercado e o dinheiro, por exemplo, não se difere essencialmente da teoria econômica ortodoxa, na observação do interesse individual e da racionalidade instrumental, considerados relativamente autônomos em relação às questões de natureza social, cultural e ambiental.
Inegavelmente, Max Weber é o teórico que mais se destaca, nesse sentido, pelo sistema teórico que articula uma visão diferente dos fatos econômicos daquela presente na teoria econômica ortodoxa, centrando seus modelos teóricos em um eixo conceitual mais robusto, a saber, a “ação econômica dos indivíduos”.[1]
Para o nosso teórico, toda a ação individual é motivada quer por uma racionalidade, possuindo objetivos extrínsecos e valores intrínsecos (hábitos, costumes e crenças) ou por impulsos momentâneos de consciência do ator social.
Assim, as atitudes médias dos indivíduos são ao fim e ao cabo uma expressão de suas múltiplas conexões de sentidos, não havendo desta forma uma ordem social imanente ou uma linearidade histórica determinada.
Weber norteou suas perspectivas criando o conceito de “ascese intramundana”, encontrado nos países que abraçaram o protestantismo, cuja ação individual se dava pela “Ética do Trabalho” e pela “Poupança”.
Digno de nota é que Weber tomou por base o conceito de Virgílio, poeta latino que cunhou o termo “Auri Sacra Fames”, expressando o “sagrado desejo de riquezas”, que todo ser humano carrega dentro de si.
Na teoria economia ortodoxa, por exemplo, o agente é concebido como um indivíduo atomizado – sem raízes, sem relacionamentos sociais – e o próprio contexto institucional desaparece.
Max Weber cria a “Sociologia Compreensiva”, para a qual a ação individual é social na medida em que se orienta pelo comportamento de outros. “Outros” são definidos por Weber como sendo, além de outros indivíduos, uma “pluralidade de agentes desconhecidos e indefinidos”.[2]
Não restam dúvidas de que desde o final do século XIX, mais do que outras teorias, a “Teoria Compreensivista” de Max Weber vememprestando mais sentido às interpretações sobre as mudanças ocorridas dentro do capitalismo.
Não restam dúvidas, também, que desde o início do século XXI, o mundo vem passando por aceleradas transformações. Essas rápidas transformações vêm reorganizando o tabuleiro do xadrez geopolítico, determinando as açõespolítico-econômicas dos indivíduos, dos países e dos grupos empresariais.
Estamos na transição rumo a um futuro em que as mudanças ocorridas dentro do capitalismo determinarão os desafios para os modais impulsionadores da economia, da política e da sociedade, como o modal energético, por exemplo, o qual impõe a diversificação de suas matrizes para aumentar a oferta de produção de energia limpa e renovável.
Em uma economia global em pleno desenvolvimento, ainda há um consumo crescente de combustíveis fósseis. Contudo, segundo estudo da Bain & Company sobre os mercados de energia – especificamente petróleo, gás, carvão, energia nuclear e fontes renováveis –, a demanda de combustíveis fósseis poderá atingir seu pico em 2030. E será seguida de uma transição agressiva para outras formas de energia.[3]
Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), a Economia Verde é uma alternativa ao modelo econômico dominanteque vivemos atualmente, o qual exacerba as desigualdades, incentiva o desperdício, desencadeia escassez de recursos e gera ameaças ao meio ambiente e à saúde humana.[4]
De acordo com esse organismo, o conceito propõe tornar a economia que temos hoje em um modelo mais sustentável, com mais inclusão social, eficiência no uso de recursos naturais, com consumo consciente, de baixo carbono, entre outras medidas que ajudem a valorizar o meio ambiente.
Como essa alternativa ao modelo econômico dominante requer a participação de diversos países, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) possui uma área de trabalho específica sobre “Crescimento Verde e Desenvolvimento Sustentável”, abordando áreas como: Energia Verde, Transporte Verde, Agricultura Sustentável, entre outras. Além disso, a Organização internacional produz um “Indicador de Crescimento Verde”, comparando diversos países e monitorando o progresso.[5]
Atualmente, um plano de ação e transição de uma economia baseada em combustíveis fósseis para outra movida pela energia renovável acaba de receber um apoio de US$1 bilhão de duas fundações: a Ikea e a Rockefeller.[6]
O anúncio foi feito durante o encontro ministerial que criou as bases do Diálogo de Alto Nível sobre Energia, que será realizado em 20 de setembro próximo, em Nova Iorque, EUA, para avançar com a implementação da Agenda 2030.
A Economia Verde deve fazer parte do planejamento estratégico dos governos municipais, realizada por atores econômicos alicerçados no Capitalismo 4.0, em ordem a estabelecer políticas públicas, com vistas a buscar novas rotas para responder aos desafios da atual fase da economia.
Como bem assinalou Max Weber, “uma exploração racionalmente capitalista, é uma exploração com contabilidade de capital, que controla sua rentabilidade administrativamente através da contabilidade moderna”, estabelecendo um balanço entre a máxima lucratividade e o mínimo risco ambiental e social, premissa central para o desenvolvimento econômico sustentável.
[1] WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
[2] WEBER, Max. Economia e Sociedade. Brasília: Editora UNB, 2000.
[3] José de Sá. O combustível fóssil e a transição para as novas fontes de energia. In, Brasil Energia. Opinião. https://editorabrasilenergia.com.br/. Acessado em 27 de agosto de 2021.
[4] UN Environment Programme. Por que a economia verde é importante? https://www.unep.org/explore-topics/green-economy/why-does-green-economy-matter. Acessado em 27 de agosto de 2021.
[5] OECD 50. A Caminho do Crescimento Verde: Um Sumário para os Decisores Políticos. Maio de 2011. In, https://www.oecd.org/greengrowth/48536946.pdf. Acessado em 27 de agosto de 2021.
[6] ONU News. Perspectiva Global Reportagens Humanas. Iniciativa privada doa US$1 bilhão para investimentos em energia verde.In, https://news.un.org/pt/story/2021/07/1755702. Acessado em 27 de agosto de 2021.