Em sua obra “O Fenômeno Fundamental do Desenvolvimento Econômico”[1], Schumpeter demonstra os limites da teoria econômica neoclássica e, especificamente, os impeditivos para a análise sobre o fenômeno do “desenvolvimento econômico”.
Para Joseph Alois Schumpeter, economista e cientista político austríaco, o conceito de “desenvolvimento econômico”, refere-se, exclusivamente, a um fenômeno anômalo ao que pode ser observado no fluxo circular ou na tendência para o equilíbrio econômico.
Por isso mesmo, para o economista e cientista político austríaco, o conceito acima apontado, representaria tanto uma descontinuidade nos canais do fluxo, quanto perturbações no sistema, alterando o estado de equilíbrio do “crescimento econômico”.
Para a fixação dos conceitos de “crescimento econômico” e de “desenvolvimento econômico”, pode-se afirmar que o primeiro significa, por exemplo, que durante um ou vários períodos, ocorreu tanto o aumento de capital de uma empresa, quanto o aumento da produção e consumo de bens e serviços, medido através de índices como o Produto Interno Bruto (PIB).
O segundo conceito, portanto, vai além do mero aumento de capital empresarial, da produção e do consumo, impactando diretamente a qualidade de vida das pessoas, da sociedade e do meio ambiente.
Isto posto, podemos afirmar que “Crescimento Econômico” trata do crescimento quantitativo da produção, gerando enriquecimento, mas sem necessariamente afetar a melhoria das condições de vida da sociedade.
Em síntese, o “Desenvolvimento Econômico” diz respeito à qualidade de vida da sociedade, sendo aferido por meio de indicadores como a educação, saúde, renda, pobreza, entre outros, tendo como diapasão desses indicadores, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que realiza comparações de desenvolvimento de diferentes economias e períodos.
Diferentemente do conceito de “crescimento econômico”, enquanto maximização do retorno do capital investido, o conceito de “desenvolvimento econômico” produz uma situação específica em que a competição entre as empresas se daria menos pelo seu “Valuation” (credibilidade da marca, a posição que ocupa no mercado e previsão de investimentos futuros) e mais, sobretudo, pela “Inovação Tecnológica”.
Do ponto de vista do “desenvolvimento econômico”, a inovação tecnológica consiste no desenvolvimento de produtos, serviços, processos e métodos, usando, para tanto, a tecnologia, cujos benefícios vão desde a melhoria da cultura organizacional, da produtividade, da competição colaborativa e da inclusão econômica, social e ambiental.
O conceito de “inclusão”, refere-se a um conjunto de meios e ações que combatem toda forma de exclusão aos benefícios da vida em sociedade, provocadas pelas diferenças de classe social, educação, idade, deficiência, gênero, preconceito social ou preconceitos raciais.
As exclusões econômica, social, ambiental e tecnológica exigem atenção não só dos poderes públicos, mas, também, das instituições privadas e, por isso mesmo, requerem esforços contínuos para a colaboração e parcerias com vistas a criar novos modelos gerenciais capazes de ampliar o raio de ações propositivas e mais inclusivas.
Outro tipo de exclusão, muito pouco abordada pelos teóricos da economia, sociologia, ciência política, entre outros, é a “exclusão financeira”, a qual atinge a maioria absoluta da população mundial, em geral, e brasileira, em particular.
De acordo com o site Valor Investe[2], ainda existem 34 milhões de brasileiros sem conta bancária ou que a usam com pouca frequência.
No mundo todo, em plena era do comércio eletrônico, cerca de 3,5 bilhões de pessoas ainda adotam o dinheiro vivo nas transações. Sequer tomaram conhecimento da existência do cartão de crédito e, provavelmente, nunca usarão um cartão de plástico um dia.
Muitas dessas pessoas que não têm conta em banco, mas que diariamente movimentam dinheiro, foram submetidas, de uma forma ou de outra, à informalidade, sem nenhum alcance das políticas públicas capazes de os reinserir na economia formal.
A pessoa que se encontra na informalidade econômica, tem sérias restrições financeiras, esperando até três anos para juntar dinheiro suficiente para comprar um ítem da linha branca, como geladeira, freezer e fogão, ou até seis meses para renovar o estoque do seu negócio, por exemplo.
Quem tem acesso ao crédito, pode parcelar as compras de modo a adquirir, mais imediatamente, o item fundamental para as suas necessidades comerciais e/ou domésticas, fazendo a economia girar. Com essa parcela cada vez mais crescente de desbancarizados, a economia brasileira poderá levar anos para reaquecer.
Em geral, pessoas desbancarizadas pertencem às classes sociais D e E, as quais realizam trabalhos esporádicos, com remunerações em dinheiro vivo. E o que significa classe social?
Para Max Weber, as sociedades são divididas em estratos, e a posição das classes sociais é condicionada pela renda, poder e status. O status é um fenômeno típico da estratificação social, segundo o qual ocupar determinada posição na estrutura da sociedade implica tratamento de honra e privilégios.[3]
Segundo Émile Durkheim, os grupos sociais adquirem status, honraria ou prestígio em razão das posições profissionais ou funcionais que são mais valorizadas na sociedade e mais bem integradas. Para ele, a vinculação entre os indivíduos se dá por meio da complementaridade das posições que ocupam na divisão do trabalho.[4]
Na percepção de Karl Marx, ao analisar os fatores históricos da economia, ele observou que em todos os períodos, as bases econômicas eram estruturadas pelo antagonismo entre grupos de opressores e oprimidos.
Para Marx, há dois grupos de classes sociais, contrários um ao outro, a saber, o grupo dos que possuem os meios de produção (terra, fábrica, banco, etc.), chamado por ele de “classe social burguesa”, e o grupo dos que possuem apenas sua força de trabalho, conhecido como “classe social proletária”.[5] Para esse autor, essa luta é que movia as sociedades e promovia a transição de um modelo econômico para outro.
O conceito de classes sociais trabalhado pelo sociólogo francês, Pierre Bourdieu, é definido não só pela posição que as classes ocupam no processo produtivo, mas, sobretudo, pelo acesso que têm a bens materiais e culturais.[6]
O Brasil é hoje uma das sociedades com maior desequilíbrio em termos de acesso à educação, distribuição de renda e “bancarização”, o que torna o nosso país bastante emblemático quando se trata de questões relacionadas à formação das hierarquias sociais e atividades econômicas.
No âmbito de uma atividade econômica tradicional e apoiada sobre uma forma tradicional de estar no mundo, os brasileiros das classes sociais C, D e E, defrontam-se com uma plêiade de faltas de alternativas, entre outros, a abstinência do Estado na solução de seus problemas estruturais, bem como a reprodução de um passado não questionado, fundamento da própria condição da sua reprodução.
Os brasileiros sem contas bancárias procuram crédito na praça. Os desbancarizados não deixam de recorrer a um amigo ou um parente para pedir dinheiro emprestado, por exemplo. E essa situação tende a se agravar, conforme recentes estudos sobre a mobilidade das classes sociais no Brasil.
Segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva, a pandemia do novo coronavírus fez com que 4,9 milhões de brasileiros saíssem da chamada classe média, migrando para a classe baixa. Em 2020, a queda da classe B para a C foi de 47%.[7]
Ainda, conforme esta pesquisa, 6 de cada 10 brasileiros da classe B viram a renda diminuir no último ano. Destes, 19% atualmente sobrevivem com metade ou menos da metade do que arrecadavam antes da crise sanitária.
De acordo com o site Infomoney, do total de brasileiros que não possuem relações com bancos (desbancarizados), 62% moram no interior, sendo que quase quatro em cada dez moram no Nordeste (39%). Importante observar que esse grupo movimenta anualmente, no país, mais de R$800 bilhões.[8]
Com vistas a se fazer presente, mais intensamente, nessa faixa social, o NeuroBanco – Banco de Desenvolvimento Comunitário, criou algumas iniciativas voltadas, prioritariamente, para as classes sociais desbancarizadas.[9]
Uma das iniciativas é o Microcrédito, o qual segue o modelo de melhoria da qualidade de vida das pessoas que vivem em comunidades muito pobres e excluídas, através da concessão de créditos de forma simples e justa, dando-lhes condições para que acreditem em seus sonhos de empreender promovendo o desenvolvimento local através da liberação de microcrédito associado à educação financeira.
Outro produto do NeuroBanco é o Fundo Solidário e Criativo, proposto para estimular a realização de investimentos de impactos, conectando negócios sustentáveis com investidores e iniciativas socialmente responsáveis.
Na mesma linha de produtos para alavancar a inclusão financeira, econômica e social dos desbancarizados, está a NeuroMoeda, moeda social eletrônica inteligente. Com taxa de conversão fixada de forma irrevogável e única, podendo ser usada na conversão para o Real, com base no conceito de taxa de câmbio fixa determinada pelo NeuroBanco e registrada em Cartório.
Na Bahia, a primeira organização a utilizar essas iniciativas do NeuroBanco será a Associação Comunitária do Marback e Imbuí (ASCOMI)[10], cuja missão consiste em promover a união do bairro e disseminar o conhecimento, empoderando a população para alcançar níveis de excelência na sua qualidade de vida.
Entre os vários projetos desenvolvidos pela diretoria executiva e associados desta instituição, encontra-se a FECPAZ – Feira de Empreendedorismo e Cultura de Paz, cujo propósito consiste em fomentar os serviços, projetos e negócios dos micro e pequenos empreendedores do bairro do Imbuí, Salvador, Bahia.
De acordo com a Diretora Financeira da ASCOMI, a Sra. Anna Paula Vieira,[11] há uma grande oportunidade para se utilizar a NeuroMoeda, do NeuroBanco, no bairro do Imbuí, a começar pelos empreendedores relacionados à FECPAZ, como projeto piloto.
Segundo a gestora, a proposta é criar, em parceria com o NeuroBanco, um cartão de crédito próprio e uma linha de crédito para estimular tanto o consumo quanto a produção local.
De igual forma, a associação vem estudando a possibilidade de se desenvolver um aplicativo para smartphones, a fim de incentivar a economia circular, a sustentabilidade e autonomia financeira dos micro e pequenos empreendedores comunitários.
Na visão da ASCOMI, juntamente com o Microcrédito e o Fundo Solidário e Criativo, a moeda social, NeuroMoeda, contribuirá tanto para a inclusão dos desbancarizados, quanto para a melhoria da organização da economia local, dinamizando as redes de produtores e consumidores locais, criando uma economia diferenciada, solidária, circular e sustentável.
[1] Schumpeter, Joseph Alois. Teoria do desenvolvimento econômico. Uma investigação sobre lucros, capital, crédito, juro e o ciclo econômico. São Paulo – SP: Editora Nova Cultural Ltda, 1997.
[2] https://valorinveste.globo.com. Acessado em 10 de setembro de 2021.
[3] WEBER, Max. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1991, v1.
[4] DURKHEIM, Émile. Educação e Sociologia. Petrópolis: Vozes, 2011.
[5] MARX, Karl. Manuscritos econômico-filosóficos, 1. ed. São Paulo: Boitempo Editorial, 2004 a, 176 p.
[6] BOURDIEU, Pierre. (2015). A distinção: crítica social do julgamento. 2ª ed. Porto Alegre: Zouk.
[7] Com pandemia, 4,9 milhões saem da classe média para a baixa, diz estudo. Economia UOL. In, https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2021/04/17/classe-media-brasil-pandemia-encolhe-reducao.htm. Acessado em 10 de setembro de 2021.
[8] https://www.infomoney.com.br. Acessado em 10 de setembro de 2021.
[9] http://www.neurobanco.com.br/microcredito/. Acessado em 10 de setembro de 2021.
[10] https://ascomi-associacao-comunitaria.negocio.site/. Acessado em 10 de setembro de 2021.
[11] Anna Paula Vieira é Acadêmica de Marketing da UNIJORGE, Diretora Financeira da ASCOMI e CEO da ARPSI INSTITUTE.