Segundo o Instituto Oceanográfico da USP (IO/USP), mais de 95% do lixo encontrado nas praias brasileiras é composto de plástico. Dessa forma, estima-se que cerca de 8,8 milhões de toneladas de lixo plástico acabam nos oceanos do planeta todos os anos. E para onde navega esse plástico todo? Uma pequena parte dessa resposta está nas praias da chamada Costa do Descobrimento, na Bahia, em um estudo que coleta os resíduos plásticos encontrados nas praias do extremo Sul do estado e mapeia suas origens. Em cinco semanas de coleta em 2024, foram identificadas garrafas provenientes de mais de 20 países, reforçando preocupações sobre a quantidade de lixo presente no fundo do mar e nas correntes marítimas.
A pesquisa é uma iniciativa da Veracel, indústria produtora de celulose que opera na região. Em 2023, já havia sido iniciada uma amostra deste estudo e, neste ano, a retirada do plástico e sua catalogação tem sido feita desde maio, com uma coleta de periodicidade semanal. Somente durante as cinco primeiras semanas, foram retirados 140kg de lixos plásticos nas praias da região do Terminal Marítimo de Belmonte, por onde a Veracel transporta a sua carga de celulose.
Até o momento, a maior incidência foi de garrafas plásticas produzidas na Ásia e que podem ter vindo pelo mar ou terem sido dispensadas por navios. Após a análise, o lixo recolhido é encaminhado para reciclagem e novas destinações.
Um estudo da ONG norte-americana Center for Climate Integrity mostrou que apenas 9% do plástico produzido globalmente é reciclado. No Brasil, a porcentagem é ainda mais preocupante: apenas 1,3% do plástico passa pelo processo. “Entender de onde está vindo o lixo mostra que não existe o conceito de jogar algo fora, pois o fora será sempre algum lugar. Por isso, ações de logística reversa e a conscientização da população quanto aos hábitos de reciclagem são necessidades globais”, comenta Carolina Weber Kffuri, bióloga e especialista em Responsabilidade Social na Veracel.
Segundo o pesquisador especialista em microplásticos, André Lima, do MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (Portugal), os países do continente asiático e os Estados Unidos são os maiores produtores de plástico do mundo e, atualmente, a situação é preocupante. “O microplástico é encontrado no ar, em quase todas as espécies marinhas importantes para o consumo humano e no sal de cozinha, por exemplo. Em cada litro de água mineral pode ser encontrado em média cerca de 325 partículas de microplásticos”, pontua o professor.
O professor conta ainda que os microplásticos são encontrados nos tecidos humanos, no sangue e no leite materno e sua presença libera compostos tóxicos, além de terem potencial para “adsorver” poluentes orgânicos persistentes e metais pesados em sua superfície, isto é, o processo em que moléculas de uma substância se aderem à superfície de outra substância. “Todos esses compostos são extremamente prejudiciais à saúde humana e ao meio ambiente, com potencial, ainda incerto, de desencadear diversas doenças no futuro. Por isso, é alarmante que existam 150 milhões de toneladas de plástico nos oceanos, e ainda assim, poucas empresas se comprometem com a reciclagem necessária. Essa pesquisa é importante para fornecer dados científicos que possam informar e pressionar políticas governamentais. A logística reversa é uma questão urgente para o comprometimento com o 14º objetivo do desenvolvimento sustentável da ONU e, considerando que o Brasil é o quarto maior produtor de lixo plástico no mundo, seria incrível se todas as empresas adotassem estudos como este e, acima de tudo, práticas de reciclagem, pois o impacto positivo seria imenso, tanto para a saúde pública quanto para a preservação dos nossos ecossistemas marinhos”, comenta o professor, autor de diversos artigos científicos sobre o tema, como o Plastic Contamination in Brazilian Freshwater and Coastal Environments: A Source-to-Sea Transboundary Approachs.
Corrente do Brasil: entendendo o lixo e o clima
O lixo plástico, oriundo de diferentes partes do mundo, chega ao oceano Atlântico através da interação entre diversas correntes oceânicas e a circulação termohalina, um processo que movimenta as massas de água dos oceanos ao redor do mundo. Esse lixo internacional é distribuído pelas praias brasileiras principalmente entre abril e setembro, trazido pela Corrente do Brasil, uma corrente oceânica quente que flui ao longo da costa leste da América do Sul, desde o Norte até o Sul do país. É uma das principais correntes do Oceano Atlântico Sul e desempenha um papel crucial na climatologia e na circulação oceânica da região.
“A Corrente do Brasil tem um papel importante na modulação do clima costeiro, contribuindo para temperaturas mais amenas e influenciando os padrões de precipitação. Além disso, ela influencia a vida marinha, transportando nutrientes e organismos marinhos ao longo da costa”, afirma Carolina. Ao monitorarmos o lixo que a Corrente traz também conseguimos entender possíveis relações entre alterações nos padrões da corrente com as mudanças climáticas da nossa região”, complementa a especialista em Responsabilidade Social da Veracel.
A Veracel projeta ampliar o estudo para mais de 35 km de praias na região, com o apoio da Ambipar, consultoria especializada em soluções ambientais que já é parceira da Veracel no monitoramento de tartarugas marinhas na mesma região.
Sobre a Veracel
A Veracel Celulose é uma empresa de bioeconomia brasileira que integra operações florestais, industriais e de logística, que resultam em uma produção anual média de 1,1 milhão de toneladas de celulose, gerando mais de 3,2 mil empregos próprios e de terceiros, na região da Costa do Descobrimento, sul da Bahia e no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. Além da geração de empregos, renda e tributos, a Veracel é protagonista em iniciativas socioambientais no território. A consultoria Great Place to Work (GPTW) validou a Veracel como uma das melhores empresas para trabalhar no Brasil pelo 6º ano consecutivo e a terceira melhor da Bahia em 2024.