Animais bebem lama em lugar de água (Foto: Tribuna da Bahia)


“Jesus está nos abençoando com os braços na frente para que a Coelba não corte a luz de minha casa, que está atrasada desde 2015, por não ter condições de pagar por falta de dinheiro, porque estou desempregada”, declara a ruralista J. A. B. dos Anjos, moradora da região de Lajedinho, no interior de Barrocas, lembrando que tem R$ 80,00 da Bolsa Família e uma pequena ajuda do filho, que trabalha dando ração a animais como fonte de renda para sobreviver, já que o marido vive fazendo biscate por não achar trabalho fixo.

Cerca de 1.300 famílias do município tem os programas sociais do governo federal como principal meio de renda. Centenas de famílias que tem como fonte de renda principal a lavoura do sisal e a agricultura familiar, estão de braços atados, sem saber o que fazer, devido ao longo período de estiagem que atinge a área.

O prefeito José Jailson Lima Ferreira (Jai de Barrocas), informou que cerca de 50 pessoas tem lhe procurado diariamente para pedir emprego. “Esse é um momento preocupante para nós, por não termos como atendê-los. Pegamos o município no mês passado todo sucateado. Nem dinheiro está tendo para consertar as máquinas, que encontramos quebradas, para que possamos limpar as aguadas que estão secas e tomadas pela lama”, comenta.

Motores parados e agricultores de braços atados

(Foto: Tribuna da Bahia)

A lavoura sisaleira – que já chegou a matar a fome de milhares de famílias no semiárido baiano -, está praticamente dizimada pelo sol inclemente, e muitos lavradores vem encontrando dificuldades para colocar o pão na mesa e Antônio Bispo, que trabalhou por muito tempo como sevador em um motor de sisal, é um exemplo da realidade. Com a paralisação das atividades por conta da estiagem, a situação agravou-se para as pessoas que tinha os campos de sisal como principal meio de trabalho. No momento, Bispo disse que vem fazendo biscate, destocando pastos, serviço que cada vez mais escasso na região.

Sem ter onde trabalhar, a situação se agrava a cada dia para os moradores da região da Fazenda Tanque das Pombas, após a paralisação dos motores de sisal por conta da planta murcha e sem condições de corte e desfibramento. Isso deixou mais de 100 pessoas sem fazer nada para tirar o sustento da família.

“Nos últimos seis meses, mais de10 motores de sisal já deixaram de rodar. Aqui não existe trabalho e nem água para beber. A salvação nossa tem sido a prefeitura que tem colocado água para o consumo humano e animal. Graças a Deus, sou cadastrada na Bolsa Família e recebo R$ 200,00/mês. Se não fosse isso, não sei o que seria de mim, para sustentar meus filhos”, conta a domestica Raimunda Bispo dos Santos, mãe de dois filhos.

Lavoura dizimada com a seca

Palma e mandacaru o que resta para os animais (Foto: Tribuna da Bahia)

O criador José Góes da Mota, morador da Fazenda Lajedinho, que sobrevive da agricultura familiar e de um pequeno criatório de caprinos e ovinos, está sem água e pastagens. Ele teve que reduzir o plantel por conta da seca e tem a palma e o mandacaru como única fonte de alimentação dos animais.

O morador da fazenda Lagoa do Velho, José Antônio dos Santos afirmou que em 59 anos de vida, essa é a terceira vez que ele vê o tanque de pedras da comunidade – que leva o nome da fazenda – secar por falta de chuvas. “Essa fonte de água doce que já chegou a matar a sede de muitos moradores e de muitos animais da redondeza, agora é só lama. É duro conviver com uma situação dessas. Com a seca, ninguém consegue ganhar um centavo e o sisal, que por muitas décadas foi a principal fonte de trabalho para a sobrevivência dos moradores daqui, sem chuva, a planta não tem conseguido resistir ao sol escaldante, o que vem causando a sua dizimação”.

Ações do município

“A prefeitura já fez o pedido de Estado de Emergência, mas os governos estadual e federal, ainda não homologaram. Essa é uma das maiores secas já vista na região. Das 26 barragens de médio e grande porte, construídas na gestão do ex-prefeito Edilson Lima, cinco delas ainda tem um pouco de água. Mesmo assim, o município sofre num todo. Apesar de termos pegue a prefeitura em situação difícil, temos seis carros-pipa atendendo a população, um do PAC e cinco contratados. Para ter uma ideia, cada viagem de água custa R$ 100,00 e tem carro que chega a fazer até sete viagens ao dia, uma despesa diária superior a R$ 3 mil. Esse valor é muito alto para a realidade atual de Barrocas. Tenho andado muito pela zona rural e tenho observado o sofrimento que o homem do campo vem passando, devido à falta de comida e água para os animais. Não me lembro de uma seca tão grave como essa que estamos vivendo. Água para o consumo humano vem da adutora Biritinga/Barrocas. O problema não é esse, o problema maior é água para os animais e os moradores das localidades aonde não existe sistema de abastecimento de água. Nós que pegamos o município cheio de problemas. Estamos tendo de enfrentar, de inicio, também, uma seca desse porte”, lamenta o prefeito Jai de Barrocas.

Com uma população em torno de 18mil habitantes, o município de Barrocas tem a economia baseada no royalty da mineração da Fazenda Brasileiro, a agricultura de subsistência milho, feijão e mandioca, o comércio em fase de crescimento e a lavoura do sisal, que já foi muito forte. O prefeito Jai de Barrocas, disse que iniciou o mandato com os pés no chão, está fazendo contenção de despesas, com redução de folha de pagamento, disse que esses 45 dias tem sido de muitas dificuldades, mas garante já ter realizado diversas ações como a retirada de 300 caçambas de entulhos e lixo que tomavam conta das ruas da sede, povoados e comunidades; recuperou as principais estradas vicinais; vem iluminando a sede, povoados e comunidades, mas a prioridade no momento está voltada para o atendimento da população que necessita de abastecimento de água através de carros-pipa. Sem esquecer-se da saúde, que é a grande prioridade de seu governo. “Neste setor, já reabri 14 postos de saúde; o hospital municipal voltou a funcionar a todo vapor após a contratação de médicos, enfermeira, auxiliar de enfermagem; além de disponibilizamos algumas especialidades e algumas pactuações com hospitais da região para atender melhor nossos munícipes”, conclui.

TRIBUNA DA BAHIA | Pedro Oliveira