Os fatos históricos, narrados como “Conjuração Baiana”, “Revolta dos Búzios”, “Revolução dos Alfaiates” e “Inconfidência Baiana”, devem ser estudados para além de uma simples análise sobre as revoltas episódicas do período colonial brasileiro.
Todos sabemos que a História tem fatos e narrativas sobre os fatos, os quais estão interligados e demonstram os lados daqueles que estão em disputas políticas, sociais, econômicas, tecnológicas, culturais e religiosas.
Quando o foco é uma “Conjuração”[1], portanto, é essencial levar em conta seu contexto. A Revolução Francesa, por exemplo, exerceu grande influência no conflito baiano, tomando em consideração a participação do povo que lutava pela criação de uma república, pela abolição da escravatura, pelo aumento de salário e pelo livre comércio.
As perguntas que se impõem sobre esse fato histórico são:
- Essa foi uma luta com armas ou com ideias?
- Como as pessoas comuns daquela época conheceram essas ideias?
- As ideias difundidas na Revolução Francesa influenciaram também a Independência do Brasil, mesmo essa tendo ocorrido mais de 20 anos depois, apenas em 1822?
Todos sabemos que qualquer transformação, no passado ou no presente, não ocorre de forma repentina, pois isso se dá por meio de um combinado de ações de homens e mulheres em diferentes épocas e espaços sociais.
De acordo com alguns historiadores, as correspondências entre os movimentos ocorridos na Bahia e na França poderiam ter sido ainda mais estreitas, se tomarmos em consideração que houve uma tentativa de acordo intermediada com o capitão chefe da Divisão das Armadas Navais Francesas, Antoine-René Larcher (1740-1808).[2]
Já em 1797, os líderes da conjuração baiana propuseram a Larcher que ele intermediasse os negócios com a França, oferecendo os produtos comerciais brasileiros em troca de homens e armamentos para a luta contra os portugueses.
Na época, Salvador tinha cerca de 70 mil habitantes, sendo a maior cidade do Brasil. Com a queda na produção de ouro e diamantes, em Minas Gerais, a Bahia voltava a ser a capitania mais rica da América Lusitana, com sua produção de açúcar, tabaco e algodão.
A revolta dos brasileiros com Portugal era porque os homens “brancos e livres” da colônia tinham, geralmente, limites em suas aspirações profissionais e ascensões sociais, em comparação aos portugueses.
Todavia, os brasileiros “negros e pardos” sofriam as exceções de uma sociedade racista, mesmo entre aqueles seus irmãos brasileiros “pardos e brancos”, que objetivavam apenas a realização de suas aspirações e desejos.
Por exemplo, membros da elite reclamavam dos impostos e da falta de liberdade comercial. Soldados reclamavam dos baixos soldos. A indústria de manufaturas era proibida pelo Alvará de 1785, o que explica o grande número de artesãos na cidade. Salvador era o principal porto do Brasil, mas só navios portugueses podiam atracar.
Sendo a Inglaterra e a França as únicas grandes potências mundiais e Portugal, parceiro comercial da Inglaterra, a estratégia dos líderes baianos se deu na busca pelo apoio da França para lutar contra o colonizador.
Os brasileiros estavam progressivamente amadurecendo para se tornarem numa nação independente. A Conjuração Baiana foi um movimento maior que a Inconfidência Mineira (1789). Em 1817, eclodiu a Revolução Pernambucana, o maior de todos os movimentos de libertação do domínio lusitano antes da Guerra da Independência.
Entre os fatores que causaram a Independência do Brasil podemos destacar a crise do sistema colonial, as ideias iluministas, e as independências ocorridas na América Inglesa e na América Espanhola. Além disso, a própria elite agrária brasileira se beneficiaria de uma separação entre Portugal e Brasil e as subsequentes revoluções tecnológicas ocorridas no bojo dessas mudanças de paradigmas.
Foi o Príncipe-regente Dom João de Bragança quem abriu os portos da então colônia, permitindo o funcionamento de fábricas e fundou o Banco do Brasil. Em 1815, o então Estado do Brasil foi elevado à condição de reino, unido aos reinos de Portugal e Algarves, com a designação oficial de Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, tendo Dona Maria I de Portugal acumulado as três coroas.
Em 7 de setembro de 1822, Dom Pedro de Alcântara proclamou a Independência do Brasil em relação ao Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, e fundou o Império do Brasil, sendo coroado imperador como Dom Pedro I.
Nesse período do Brasil que foram estabelecidas as condições jurídicas e legais para promover o desenvolvimento local, através da inovação tecnológica, com novas máquinas e processos, bem como a introdução de empresas estrangeiras no país, avalizadas pela Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional, sociedade civil de direito privado fundada em 1831 com o objetivo de fomentar a indústria brasileira.
Lembremos que os primeiros processos de Revolução Industrial, que vai de 1760 a 1860, surgido, principalmente, na Inglaterra no final do século 18, concorreu para que, no decorrer do século 19, outros países iniciassem a sua industrialização, como ocorreu nos Estados Unidos, na França, na Alemanha, na Itália, na Holanda, no Japão e na Bélgica. Os principais recursos materiais utilizados nessa fase foram o ferro, o carvão, o tear mecânico e a máquina a vapor.
De acordo com o economista britânico, Schumpeter (1939), inovações tecnológicas estão relacionadas com a dinâmica do crescimento econômico e com a existência de uma relativa periodicidade nas variações de certos fatos econômicos, que ele denomina de ciclos, argumentando que os ciclos econômicos são perturbações do sistema econômico, por longos períodos, relativamente a um estado de equilíbrio, com fatores externos (como grandes encomendas da administração pública) e os fatores de crescimento gradual e as inovações, sendo estas o fator dominante para a evolução econômica.
O processo de industrialização brasileiro é considerado tardio, quando comparado à industrialização dos países capitalistas centrais, tendo início somente no século XX, quase 200 anos depois da industrialização na Europa.
Foi somente na terceira fase da industrialização do Brasil que o governo e a classe burguesa fizeram maciços investimentos no setor, adquirindo maquinários e melhorando o setor de transportes e energia, fator esse que tornou o país competitivo e apto para receber indústrias mundiais, integrando-se ao sistema capitalista global.
O maior teórico baiano, Rômulo Almeida, por exemplo, afirma que no final do século XVIII certas condições internacionais extremamente favoráveis permitiram uma nova vida ao comércio de exportação e um desafogo para os senhores de engenho de açúcar tradicionalmente endividados e que a guerra de independência americana e a Revolução Industrial abririam uma larga oportunidade para a economia brasileira e baiana.[3]
Segundo esse autor, a Bahia, principal centro comercial e produtor do Brasil daquele período, só em anos excepcionais ultrapassada por Pernambuco ou pelo Rio de Janeiro, seria a primeira a ser beneficiada por essa conjuntura favorável.[4]
Vale lembrar que Rômulo Almeida, bem como os demais economistas de sua geração – como Celso Furtado, Ignácio Rangel e até mesmo o Roberto Campos, da primeira metade dos anos 50 – não se diziam desenvolvimentistas, mas sim, nacionalistas, teorizando sobre o potencial produtivo da nação, a partir de uma ótica que transcendia o terreno econômico, para abarcar suas relações com a sociedade, política, cultura e as novas tecnologias.
Esses pensadores atuavam no sentido de alargar as estruturas sociais e tecnológicas para que o desenvolvimento econômico – tal como o interpretavam – pudesse integrar o território, gestando uma nação mais “homogênea” e menos desigual.[5]
A ruptura dos paradigmas científicos e tecnológicos só é possível quando as mudanças tecnológicas ultrapassam a habilidade das pessoas e das diversas sociedades para adaptar-se a elas.
No mês em que a Bahia, e o Brasil, rememoram os episódios que marcaram a conquista de suas liberdades e a feitura da sua ALMA NACIONAL, conclamamos o povo baiano a lutar pela REVOLUÇÃO 4.0, também chamada de QUARTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL, a qual engloba um amplo espectro de tecnologias avançadas, como a produção de energia através da gestão de resíduos sólidos urbanos, entre outras, que estão mudando as formas de produção e os novos modelos de negócios no mundo.
A INDÚSTRIA 4.0 é uma confluência e fusões de tecnologias disruptivas, muitas delas já consolidadas no mercado e aprimoradas, formando clusters e provocando um movimento de mudança na trajetória tecnológica.
Para a indústria brasileira, incluindo a baiana, manterem-se competitivas, torna-se imperioso que elas consigam, pelo menos, acompanhar e adotar as inovações trazidas pelas Tecnologias 4.0.[6]
Desde a luta pela liberdade da Bahia, comemorada no dia 2 de Julho, ainda se tem muito chão pela frente se houver interesse, realmente, por parte dos segmentos que compõem o tecido econômico, político, social e empresarial do estado da Bahia, de inaugurar um “novodesenvolvimentismo“.
Este conceito, proposto pela APSI INSTITUTE, através do Método GET (Gestão Estratégica Transdisciplinar) busca gerar e divulgar conhecimento científico focado em tecnologias limpas e estratégias gerenciais para o desenvolvimento de políticas públicas para o Desenvolvimento Econômico Sustentável Local.
Nesse sentido, conclamamos a todos os baianos, imbuídos pelos ideais da independência da Bahia, a continuarem na luta histórica pela quarta revolução mundial, a revolução da sustentabilidade.
[1] Conjuração: 1. Associação de pessoas que, secreta ou clandestinamente, conspiram contra um governo: conjuração mineira; conjuração baiana; 2. Associação de pessoas que firmam um acordo, geralmente através de um juramento, buscando um objetivo comum; 3. Aliança; acordo harmônico; em que há concordância; 4. Exorcismo; prece religiosa para expulsar o Demônio.; 5. Etimologia (origem da palavra conjuração): Do latim conjuratio.onis. https://www.dicio.com.br/conjuracao/. Acessado em 01.07.2021.
[2] Conjuração Baiana – 1796 a 1798, por Jonildo Bacelar. https://www.historia-brasil.com/bahia/conjuracao.htm. Acessado em 01.07.2021.
[3] RÔMULO – Desenvolvimento Regional e Industrialização. Federação das Indústrias do Estado da Bahia – FIEB. http://www.fieb.org.br/Adm/Conteudo/uploads/FIEB_Livro_ROMULO_APLICATIVO_FINAL_id_38__x78e390b1b612421d986765db858fe948_2662013083148_.pdf. Acessado em 01.07.2021.
[4] ALMEIDA, R. Rômulo: Voltado para o Futuro. Fortaleza: BNB, 1986.
[5] FURTADO, Celso. O mito do desenvolvimento econômico. São Paulo: Círculo do Livro, 1974.
[6] IEDI. Indústria 4.0: a quarta revolução industrial e os desafios para a indústria e para o desenvolvimento brasileiro. IEDI, São Paulo. 2017. https://web.bndes.gov.br/bib/jspui/handle/1408/17621. Acessado em 01.07.2021.