A harpia está classificada como criticamente em perigo de extinção no território baiano. A presença da ave foi registrada pelo Projeto Harpia, apoiado pela Estação Veracel, a maior RPPN de Mata Atlântica do Nordeste, mantida pela Veracel Celulose.
Um exemplar raríssimo de harpia (Harpia harpyja), a maior águia das Américas, foi fotografado próximo ao seu ninho na região do município de Belmonte, no sul baiano. A presença da ave tem imenso valor, pois a espécie corre risco e é extremamente rara na Bahia. O ninho da ave foi encontrado pelo Projeto Harpia em uma fazenda, após o filhote ter sido avistado pelos proprietários da área. O Projeto Harpia é dedicado à proteção da espécie e é apoiado pela Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Estação Veracel. A RPPN, mantida pela Veracel Celulose, é a maior reserva de Mata Atlântica do Nordeste, com 6 mil hectares, e está localizada nos municípios de Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália, no Sul da Bahia. A RPPN.
“O apoio da RPPN Estação Veracel é fundamental para o avanço das nossas atividades nas florestas da Costa do Descobrimento”, afirma Aureo Banhos, professor da Universidade Federal do Espírito Santo e coordenador do núcleo do Projeto Harpia na Mata Atlântica.
A harpia é nativa das florestas tropicais das Américas Central e do Sul. No Brasil, as regiões da Amazônia e da Mata Atlântica são hábitats para a espécie, que depende de grandes regiões de floresta para sobreviver e é muito sensível aos impactos sobre a natureza, principalmente o desmatamento e a caça. “A harpia é um predador de topo na cadeia alimentar. Necessita de disponibilidade de presas para sua alimentação, bem como de grandes árvores, para construção de seus ninhos”, afirma Virginia Camargos, Coordenadora de Estratégia Ambiental e Gestão Integrada da Veracel.
A harpia fotografada é uma fêmea jovem, com aproximadamente 1 ano e meio de vida. Nessa fase de amadurecimento, os filhotes voam em áreas próximas ao ninho onde estão os pais e ainda dependem de seus cuidados. Geralmente, as harpias colocam de um a dois ovos, mas apenas um sobrevive. Os pais tomam conta dele por cerca de dois a três anos, mesmo que já esteja voando e experimentando caçar sozinho. Por isso, a reprodução da harpia é lenta, o que faz com que a ave corra ainda mais risco de desaparecer. “Essa fêmea tem sido monitorada desde junho de 2021, quando foi identificado o ninho em que se ela encontra, até hoje, junto com os pais”, conta o professor Aureo.
Dentro da área da Estação Veracel foram identificados e são monitorados outros dois casais de harpias. Em abril do ano passado, foi possível capturar inclusive imagens extremamente raras da cópula de um desses casais. “Infelizmente, mesmo depois da cópula e da fêmea ter feito a postura e chocado o ovo, não houve o nascimento do filhote, o que pode ocorrer”, explica o professor Aureo. As harpias são monogâmicas, e o casal quase sempre usa o mesmo ninho para reprodução.
SOBRE A PARCERIA ENTRE O PROJETO HARPIA E A ESTAÇÃO VERACEL
A RPPN Estação Veracel representa um dos principais remanescentes de floresta atlântica no Extremo Sul da Bahia e do Corredor Central da Mata Atlântica. Foi identificada como uma área-chave para a biodiversidade (Key Biodiversity Area – KBA), por seu importante papel na proteção de espécies da fauna globalmente ameaçada de extinção. É considerada também uma área importante para conservação de aves (Important Bird Area – IBA). Foi ainda reconhecida internacionalmente com o título de Sítio do Patrimônio Mundial Natural (SPMN), concedido pela UNESCO, em 1999.
Em 1997, foi fundado o Programa de Conservação do Gavião-Real (outro nome popular da harpia), após a descoberta de um ninho da espécie, em uma floresta próxima à região de Manaus. Em 2005, o projeto estendeu suas atividades para a Mata Atlântica, começando pela Estação Veracel. Vinte anos depois, a iniciativa foi renomeada como Projeto Harpia.
O projeto conta com o apoio de pesquisadores parceiros, voluntários, estudantes e bolsistas para a realização da coleta de dados, projetos de educação ambiental e divulgação de informações no entorno de ninhos. Diversos ninhos de harpia e de outras grandes águias florestais, como o uiraçu e o gavião-de-penacho, são monitorados por essa iniciativa.
Na Mata Atlântica, um núcleo do Projeto Harpia foi estabelecido e é coordenado pelo professor Aureo Banhos. Com pesquisadores e equipamentos especializados no estudo e no manejo da ave, o núcleo vem desenvolvendo pesquisas, reabilitação, reintegração e conservação da população de harpias de vida livre que habitam as matas dos fragmentos florestais da RPPN Estação Veracel, do Parque Nacional do Pau-Brasil (PARNA do Pau-Brasil), e de outras reservas no Sul da Bahia.