Por ZDL
A segunda etapa da Brasil Ride coroou uma nova liderança na categoria open da oitava edição da principal ultramaratona de MTB das Américas. Com mais de quatro minutos à frente dos segundos colocados nos cerca de 130 km entre Arraial d’Ajuda e Guaratinga, os portugueses Tiago Ferreira e José Silva entraram de vez na disputa pelo título da competição. O top 3 do dia teve ainda os italianos Michele Casagrande e Fabian Rabensteiner, atual campeão do evento, seguidos de Henrique Avancini e o tcheco Jiri Novak.
Com a vitória em 4h39min36, Tiago e José têm agora o acumulado de 5h33min40. A segunda colocação é de Michele e Fabian, com tempo total de 5h34min41, apenas um segundo à frente Avancini e Jiri. O top 5 geral da open tem ainda o holandês Hans Becking e o dinamarquês Sebastian Fini e os ciclistas Mario Antônio Veríssimo e Kennedi Sampaio, que mantiveram a camisa branca, de melhores das Américas.
A prova desta segunda-feira (16) foi definida quando os ciclistas aproximavam-se do km 80. Tiago e José, que haviam ficado para atrás na primeira metade da prova, colaram nos líderes e ditaram o ritmo nos quilômetros finais. “Neste ano a estratégia foi diferente. Respeitei os limites do José nas partes técnicas, predominantemente no início, e ficamos um pouco atrás do pelotão da frente. No meio da prova encostamos nos rivais, mas sempre sem correr riscos. No km 90 o José me avisou que estava sentindo-se bem e forçamos. Fomos sempre pedalando forte, mas de uma forma confortável”, destacou Tiago.
“Na verdade nossa estratégia foi de não fazer grandes ataques, apenas pedalamos sem pensar muito e indo até onde dava e conversando demais. Tentamos a sorte e felizmente repeti a vitória na segunda etapa, igual 2016, e agora estamos na luta pelo título”, contou Tiago, atual vice-campeão mundial de maratona, que baixou cerca de 9 minutos em relação ao tempo do ano passado. “Não vamos nos colocar pressão, mas sim ir dia a dia. Ganhar a Brasil Ride seria um sonho, mas teremos corridas mais técnicas pela frente então não dá para prever. O ideal é seguir assim,sem correr riscos”, completou Tiago.
Para José Silva, que fez dupla com Tiago em 2011, a vitória teve um sabor muito especial. “Me sinto como se estivesse vivendo um sonho. Depois do nascimento dos meus dois filhos, me sinto sonhando aqui. O Tiago é um ídolo e um grande amigo, além de ser o melhor ciclista do mundo em XCM (maratona). Ganhar uma etapa da Brasil Ride com ele é algo que nunca imaginei. Agora, vamos desfrutar o dia a dia e dar tudo que temos e até o que não temos para seguir na briga”, enalteceu José.
Disputa do top 3 – As outras duas duplas que subiram no pódio nesta segunda, Michele/Fabian e Avancini/Jiri, também são consideradas favoritas até o momento para o título de 2017, ao lado de Tiago e José. “A etapa foi boa. Senti um pouco meu joelho por causa da queda sofrida no prólogo, mas com o passar do tempo fui sentindo-me melhor. No km 80 melhoramos o ritmo. Nos quilômetros, finais conseguimos superar o Avancini e o Jiri, os favoritos para nós”, contou Fabian. “Para mim essas distâncias de ultramaratonas são muito longas para o meu tipo físico, mas estou muito feliz pelo resultado. Espero me recuperar bem para a terceira etapa, que será difícil também”, avaliou Michele.
O ciclista Henrique Avancini avaliou o decorrer da prova. “Foi uma corrida morna na elite. Tentei subir o ritmo na primeira parte até o ponto de apoio 1 e foi bom, porque esticou o pelotão, apesar de saber que depois reagruparia. Até o km 70 o ritmo foi monótono, pois ninguém estava ativo. O Tiago veio bem e abriu um pouco em um trecho simples, com uma margem pequena e foi crescendo pouco a pouco. Minha tática com o Jiri não deu certo e no finzinho ficamos sem abastecimento. Estamos muito bem. O Jiri não costuma ir bem no dia 2 e com apenas um minuto, está muito bom”, contou Avancini. “Talvez eles, Tiago e José, sofram para segurar essa camisa nas etapas rainhas de terça e quinta”, completou.
Reinado ameaçado na máster – Acostumados a reinarem na máster nos últimos quatro anos, o holandês Bart Brentjens e Abraão Azevedo não tiveram um bom resultado nesta etapa. Com mais de 12 minutos de desvantagem para os novos líderes, os tchecos Robert Novotny e Fojtik Ondrej, Bart e Abraão viram a liderança na categoria escapar após terem sido tetracampeões seguidos entre 2013 e 2016. “Andamos mais forte do que deveríamos no começo, nos primeiros 50 km, e a partir do km 90 até completar, o ritmo caiu muito. Não consegui me manter e agora perdemos a camisa. Temos mais cinco dias para nos organizarmos e tentar dar a volta”, relatou Abraão, que completou o percurso com Bart em 5h21min29.
Bicampeão em 2010 e 2011 na open, pouco antes de se aposentar como ciclista profissional, Robert Novotny comemorou o resultado e sua volta ao Brasil. “No início o ritmo era muito rápido e eu estava abaixo do rendimento esperado. Fui me sentindo melhor e no km 100 alcançamos o Bart e o Abraão e os deixamos para atrás. Estava muito quente e fiquei completamente sem água. Felizmente chegamos na frente. Me sinto ótimo”, comemorou Novotny, que finalizou o dia em 5h08min35.
“Em 2010 e 2011 foi tão legal, mas quando terminei minha carreira tive várias lesões e corri muito pouco nos últimos cinco anos. Em 2017, por exemplo, corri apenas uma corrida além da Brasil Ride. Chamei o Ondrej para vir há um mês e o Mario Roma na hora nos convidou quando falei sobre a possibilidade com ele”, relembrou. “Mesmo eu não estando em ritmo de competição, o Ondrej está em boa forma e ele é forte, com várias corridas neste ano no currículo”, completou o ciclista tcheco, que em 2016 esteve no evento, mas trabalhou na parte de suporte de outra equipe estrangeira.
Ladies tem liderança mantida – Raiza Goulão e Margot Moschetti mantiveram-se na liderança e terminaram o dia com folga, em 5h37min20. “Nessa etapa a estratégia contava muito. Nos empolgamos muito no começo e saímos bem forte, e foi importante que depois de duas horas a Margot me ajudou bastante, me puxando literalmente. No final invertemos, e ultramaratona é isso, um ajudando outro”, contou Raiza. “Foi realmente um estágio longo, mas bom. O início para mim foi ruim, mas a partir da metade melhorei. Finalizamos bem, uma etapa bem bacana. Competir com a Raiza tem sido proveitoso, ela me ensina muito”, disse Margot, ciclista francesa de apenas 23 anos.
Terceira etapa – Já hospedados no acampamento da Vila Brasil Ride, em Guaratinga, os atletas terão nesta terça-feira (18) a primeira das duas etapas rainhas, as mais difíceis para os ciclistas. Com a largada às 8h, os melhores mountain bikers do mundo terão 74 km para pedalarem e 2.559 metros de altimetria acumulada nessa região montanhosa do extremo sul da Bahia.
Programação da Brasil Ride 2017 – 558,2 km – 11.379 m de altimetria acumulada
17/10 – 3ª feira, 8h (horário local)/9h (Brasília) – Etapa 3: Largada e chegada no acampamento (74 km e 2.559 m altimetria)
18/10 – 4ª feira, 8h (horário local)/9h (Brasília) – Etapa 4: Largada e chegada no acampamento (90 km e 2.712 m altimetria)
19/10 – 5ª feira, 8h (horário local)/9h (Brasília) – Etapa 5: Deslocamento do acampamento da Vila Brasil Ride para Arraial d’Ajuda (130 km e 1.974 m altimetria)
20/10 – 6ª feira, 10h (horário local)/11h (Brasília) – Etapa 6: Percurso XCO em Arraial d’Ajuda (31,8 km e 564 m altimetria)
21/10 – Sábado, 9h (horário local)/10h (Brasília) – Etapa 7: Última etapa e Maratona dos Descobrimentos (73,4 km e 1.041 m de altimetria)